terça-feira, 17 de outubro de 2017

Dan Brown, Deus e a Ciência


Para o melhor ou para o pior (provavelmente para o pior), Dan Brown novamente tenta falar besteira sobre Deus. Como seu livro O Código Da Vinci já foi demonstrado inúmeras vezes como uma obra que contém tantos erros históricos quanto poderia ter, Brown parece que não pode ficar quieto e fazer alguma pesquisa séria, ele tem que escrever sobre aquilo que acha “ruim” (o que nos faz pensar sobre qual a base dele para chamar algo de “ruim”, mas ok.)

Dan Brown, Deus e a Ciência


Deus e a Ciência
Dan Brown alegou o seguinte:

Historicamente, nenhum deus sobreviveu à ciência. Com os avanços da tecnologia, a necessidade de um Deus exterior, que nos julga vai desaparecer. [1]

Brown está correto em uma coisa: No passado as antigas culturas e religiões explicavam fenômenos dizendo que os deuses os haviam causado. Mas é uma grande extrapolação dizer que os filósofos teístas em toda a história que colocaram Deus como o criador do universo fizeram isso da mesma forma. Na verdade, o Cristianismo em si é diferente dessas religiões pagãs, e a história da ciência nos mostra isso.
Durante a história, os cientistas cristãos eram bastante diferentes dos religiosos pagãos. Por exemplo, enquanto muitos deles viam a natureza como deuses ou causada por deuses, de modo que não deveria ser investigada, os cristãos sempre olharam para a natureza buscando entender como Deus havia feito aquilo.
Por exemplo, por que a ciência não se desenvolveu mais na China, que possui bem mais tecnologia, do que na Europa? O biólogo Edward Wilson responde:

... Os estudiosos Chineses abandonaram a ideia de um ser supremo com propriedades criativas e pessoais. Nenhum Autor racional da Natureza existia em seu universo; consequentemente, os objetos que eles descreviam não seguiam princípios universais, mas, ao invés disso, operavam dentro de regras particulares que eram seguidas por essas entidades na ordem cósmica. Na ausência de uma necessidade para a noção de leis gerais – ou, pensamentos na mente de Deus, por assim dizer – pouca ou nenhuma pesquisa era feira para elas.[2]

David Livingstone, professor de geociência da Queen’s University também foi bem claro quanto à participação do Cristianismo na ciência. Ele diz: “A ideia de que o cristianismo e a ciência estão constantemente em conflito é uma grosseira distorção do testemunho histórico. Na verdade, Robert Boyle, o grande químico inglês, acreditava que os cientistas, mais que quaisquer outros, glorificavam a Deus na realização das suas tarefas porque lhes foi dado investigar a criação de Deus.”[3]
A afirmação de que o Cristianismo e a ciência são opostos está em total contradição com a história da ciência, que foi desenvolvida principalmente por causa dos cristãos.
Na realidade, é impossível que a ciência acabe com Deus. Por quê? Porque poderíamos saber tudo sobre o universo e seu funcionamento por meios naturais, ainda assim isso não descartaria a existência de Deus.
O filósofo da ciência John Lennox demonstrou isso com um exemplo: Imagine que um homem primitivo viesse a ter contato com um carro. Nesse primeiro instante, ele poderia dizer que o carro anda por causa do “deus dos carros”. Com o tempo, ele vai entendendo que o carro funciona com um motor e vários mecanismos. Ele descobre que acontece toda uma química por dentro do carro que faz com que ele funcione. Ok! Ele pode saber tudo isso. Mas isso não faz com que ele seja capaz de dizer que não existe um projetista ou designer do carro. Saber como funciona o motor do carro não significa que não se pode dizer que não há um criador do carro. [4]
O historiador da ciência Alfred North Whitehead colocou muito bem quando disse que: “Os homens tornaram-se científicos porque esperavam lei na natureza; e eles esperavam lei na natureza porque acreditavam em um Legislador.” [5]
Mas e então? Tendo mostrado que os cristãos em toda a história foram a causa do crescimento da ciência, podemos dizer, ainda assim, que a criação do universo por Deus é igual aos mitos antigos das religiões pagãs?
A ciência estuda o mundo natural. Mas antes de existir o universo, não existia natureza. Então como pode a ciência buscar uma causa que seja governada por leis da natureza, sujeita ao tempo, ao espaço e à matéria, sendo que não havia nada disso antes?
O que o teísta esta fazendo não é dizer, “Não sabemos, portanto foi Deus.” O contrário! Ele esta dizendo: Sabemos que a natureza teve um início, portanto a causa só pode ser sobrenatural.
Pense nisso: Como pode algo natural criar a natureza? Seria como se você dissesse que deu a luz a si mesmo. Sendo que não havia nem tempo, nem espaço e nem matéria antes da origem da natureza, a causa tem que, necessariamente, estar além do tempo, do espaço e da matéria. Além disso, já que criou o universo a partir de absolutamente nada, ela deve ser infinitamente poderosa. Mas veja bem: Isso é exatamente o que o Cristão quer dizer quando fala de Deus! Alguém além do espaço, do tempo e da matéria que é onipotente.
Então, o Cristão não esta dizendo que Deus é a causa de algo que não sabemos. Mas sim dizendo que a melhor explicação para um fenômeno que sabemos é a de que há um Criador Transcendente.
Quando fazemos a Teologia Natural, nós não apelamos ao desconhecido. Ao contrário, usamos o que sabemos da ciência como evidência para a premissa de um argumento filosófico que nos leva a uma conclusão teológica. Considere estes exemplos:

Argumento Cosmológico Kalam:

P1 – Tudo o que começa a existir tem uma causa
P2 – O universo começou a existir
Conclusão – Portanto o universo teve uma causa

Argumento Teleológico:

P1 – O ajuste fino do universo se deve a necessidade física, ao acaso ou ao design
P2 – Não é por necessidade física ou ao acaso
Conclusão – Portanto, é por Design

Em ambos esses casos, a P2 é fortalecida por evidências cientificas vindas dos estudos da cosmologia contemporânea. Se ambos os argumentos tiverem sucesso, então há boas razões filosóficas e cientificas para se crer em um Criador e Designer do universo.
Claro, nenhum desses argumentos prova o Deus da Bíblia. Eles nem são intencionados a isso. Mas, se bem sucedidos, provam um Deus que pode ser o Deus do Cristianismo. E, para ir além, devemos partir para as evidências históricas a favor do cristianismo, como as evidências da historicidade do Novo Testamento e as evidências da ressurreição de Jesus.
Porém, algo mais importante se torna evidente pela afirmação de Brown. A pressuposição de que a existência de Deus depende das pessoas crerem n’Ele como alguém útil para explicar fenômenos. Porém, tal pressuposto é completamente falacioso. Supondo que não houvesse nenhuma evidência para a existência de Deus vinda da ciência, ainda assim Deus poderia existir. Deus não é alguém “útil” para explicações. Deus é um ser metafisicamente necessário, que existe mesmo antes de qualquer ser vivo no universo existir.
Em suma, Dan Brown erra miseravelmente com sua afirmação de que a ciência nega a existência de Deus. Ele erra em dois pontos centrais: Não perceber que foram os cristãos que fizeram da ciência o que ela é hoje, e no pressuposto de que a existência de Deus depende da crença n’Ele como forma de explicar fenômenos. Mas mais importante que isso, essas afirmações e pressupostos, mesmo se corretos, ainda assim não descartariam Deus como explicação ultima da realidade. Pois mesmo que explicássemos tudo por meios naturais, ainda seria necessária uma explicação do por que a natureza existe e do por que de conseguirmos compreende-la. Isso o ateísmo jamais conseguirá explicar.



[1] Folha de São Paulo, Deus vai desaparecer, diz Dan Brown, que lança livro em Frankfurt, disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1926555-deus-vai-desaparecer-diz-dan-brown-que-lanca-livro-em-frankfurt.shtml> acesso 15 de outubro de 2017
[2] E. O. Wilson, Consilience: The Unity of Knowledge, Vintage, 2014, p. 31
[3] Citado em Lee Strobel, Em Defesa da fé, São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 296
[4] John Lennox e David Gooding, Cristianismo: Ópio do povo?, Porto Alegre: A Verdade, 2013, p. 43; ao invés do termo “deus dos carros”, Lennox usa “Sr. Ford”
[5] Citado em Cristianismo: ópio do povo?, p. 46

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