segunda-feira, 1 de junho de 2015

Teria o Apóstolo Paulo rejeitado a filosofia?


Uma objeção comum contra o uso de filosofia e, consequentemente, uma parte da apologética, é a de que Paulo rejeitou a filosofia e mudou completamente de estratégia com os Coríntios. Então, seria esse mesmo o caso? A Bíblia nos diz que a filosofia é ineficiente?


Teria o Apostolo Paulo rejeitado a filosofia?


Primeiro, um pano de fundo

Atos 17 diz que Paulo foi levado pelos atenienses a Areópago porque ele estava ensinando uma “nova” divindade (nova, claro, para os atenienses). Esse era o lugar que eles levavam pessoas que ensinavam essas “novas” divindades, para que o concilio aprovasse-as.

A objeção

Alguns estudiosos tentam argumentar que essa passagem foi escrita por Lucas pois ele queria mostrar que era uma estratégia falha. Eles dizem que Paulo tentou, mas falhou e não conseguiu muita resposta, então ele mudou de estratégia em Coríntios e rejeitou a filosofia, ficando apenas no evangelho.

Respostas

Paulo usa apologética em Coríntios

Apesar de não ser uma “filosofia” como a tradicional, Paulo fala de evidencias e testemunhas em 1 Coríntios 2. Isso certamente é “dar uma razão”!

É um argumento baseado no silencio

Esse é um argumento baseado no silencio. Só porque Paulo não usa filosofia com os Coríntios, não significa que ele abandonou a filosofia.

O discurso de Paulo é Cristo-centrico

O discurso de Paulo em Areópago é Cristo-centrico. É uma estratégia para comunicação através de culturas e visões de mundo.
Em Coríntios, Paulo esta enfrentando a arrogância da igreja e a espiritualidade “eu sou melhor”. Ele não estava indo contra argumentação racional ou “usar a cabeça”.

Paulo usa o mesmo método antes e depois de Atenas

Antes e depois de Atenas, Paulo raciocina e é persuasivo nas sinagogas e mercados, e se referindo ao testemunho da Criação de Deus. O método de Paulo em Atenas é ilustrado em 1 Coríntios 9:19-27:

Porque, se prego de livre vontade, tenho recompensa; contudo, como prego por obrigação, estou simplesmente cumprindo uma incumbência a mim confiada.
Qual é, pois, a minha recompensa? Apenas esta: que, pregando o evangelho, eu o apresente gratuitamente, não usando, assim, dos meus direitos ao pregá-lo.
Porque, embora seja livre de todos, fiz-me escravo de todos, para ganhar o maior número possível de pessoas.
Tornei-me judeu para os judeus, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, tornei-me como se estivesse sujeito à lei, ( embora eu mesmo não esteja debaixo da lei ), a fim de ganhar os que estão debaixo da lei.
Para os que estão sem lei, tornei-me como sem lei ( embora não esteja livre da lei de Deus, mas sim sob a lei de Cristo ), a fim de ganhar os que não têm a lei.
Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns.
Faço tudo isso por causa do evangelho, para ser co-participante dele.
Vocês não sabem que dentre todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio.
Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre.
Sendo assim, não corro como quem corre sem alvo, e não luto como quem esmurra o ar.
Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado. - 1 Coríntios 9:17-27

Veja que ele diz que “se tornou judeu para os judeus” e “fraco para os fracos”, tudo para espalhar o evangelho. Similarmente, ele viu que os atenienses eram “religiosos”(Atos 17:22) e ele falava com filósofos (Atos 17:18).
Em seu livro “The Gospel in the Marketplace of ideas”, Paul Copan e Kenneth Litwak notam varias coisas sobre Atos e Paulo:

- Lucas mostra como Paulo navega como um mestre nas formas de introduzir uma nova deidade em Atenas.

- O gênero de Atos é historiografia helenística (uma mistura de fatos, bom estilo literário e habilidade retórica)

- Os discursos em Atos são resumos porque eles levam apenas alguns minutos para serem lidos (Êutico dormiu por causa do “discurso longo” de Paulo)

- Discursos que citam as Escrituras eram reservados aos Judeus, e aos gentios eles citavam seus poemas refletindo temas bíblicos.

- Quando Lucas diz que Paulo recebeu uma resposta mista não é um anuncio de falha, mas uma vitória que deveria ser imitada. Até mesmo os judeus deram a Paulo uma resposta mista (Atos 28:24-31). Um numero pequeno foi convertido em Filipenses. Em Tessalônica e Beréia a resposta foi boa, mas eles não resultaram em nenhuma “grande igreja”. A recepção dos Macedônios foi pequena, e em Atenas não foi diferente.
Paulo nota que apenas uma pequena parte dos convertidos são elites intelectuais, mas nunca diz para ignorá-los e ele mesmo nunca os ignora. Lucas nos da dois exemplos de como agir com não-cristãos: Em Listra é argumentado usando a Natureza e em Aerópago foram usadas citações de poetas. Os apóstolos não usavam a mesma mensagem sempre pois a situação e os ouvintes eram diferentes.
Paulo, sendo de Tarso, podia dialogar com as elites culturais, pois sua educação o equipou para se adaptar com diferentes audiências. Ele era um Judeu que aprendeu com Gamaliel, enão podia conversar com Judeus. Também era um cidadão Romano, e assim podia se relacionar com os Gentios. Atenas era uma cidade bem religiosa que até mesmo tinha altares dedicados a deuses desconhecidos para evitar ofertas a um deus que eles não reconheciam. Atenas também era um centro grande de intelectuais, que nos deu Zeno, Epicteco, Aristóteles, Platão, etc.
Paulo era muito inteligente. Em Areópago, ele começa com comprimentos tradicionais, falando bem deles por serem religiosos, usando palavras que filósofos entenderiam como supersticiosas. Ao longo de Atos, Lucas nos da instruções de como dialogar com os intelectuais e a elite social. Apesar de Paulo ter ficado entristecido com a idolatria ao seu redor, ele não mostrou isso. Depois vemos discussões sobre monoteísmo, teologia natural e correção de caricaturas. Paulo mostra como os atenienses estavam errados mostrando que Deus não precisa de templos, e que Ele esta próximo. Ele usa a teologia natural, mostrando fatos da criação e da existência humana para apontar para Deus. Ele usa termos filosóficos gregos [como theion (natureza divina) ao invés de theos (Deus)], mas tudo para mostrar a verdade bíblica, não para afirmar ideologia Estóica. Paulo também apela a poetas que nos chamam de prole de Deus para chamar pessoas “apateistas”, que não se importam muito. Isso é uma demonstração de como Paulo conhecia a cultura deles e citou autoridades como forma de prova. Ele também apela para testemunhas da ressurreição em Atos 17:31. Naquela cultura, o testemunho de alguém era mais valido do que registros históricos escritos.

Por que Paulo não diz aos Atenienses que Jesus morreu por nossos pecados?

De certa forma, Paulo diz que Jesus morreu na cruz por nossos pecados quando diz:

Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam;
Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos. - Atos 17:30,31

Quer dizer, Deus negligenciou os pecados do passado (ignorância), mas agora Ele se fez conhecido, é hora de ir até Ele. Há julgamento para que rejeita essa negligencia. Tanto a negligencia quanto o julgamento são provados por Deus ressuscitando o juiz dos mortos.
Isso também nos ajuda a entender todas as outras vezes em que há chamado ao arrependimento antes e depois de Jesus morrer e ressuscitar. Por exemplo, João batista falando de arrependimento antes de Jesus morrer por nossos pecados. Deus nos ama. Ele não começou a amar quando Jesus disse “esta consumado”. Jesus veio ao mundo porque Deus nos amou (João 3:16), não o contrario. Jesus se sacrificando por nós na cruz foi o amor de Deus encarnado. Não tem como conhecer esse amor sem arrependimento, sem voltar ao Deus que salva, que nos liberta da escravidão do pecado ao conhecimento de Seu amor incondicional.
Ou nós aceitamos o amor de Deus e vivemos como filhos e filhas amados, ou não, vivendo como escravos julgados. Paulo nos diz que a única coisa que não podemos fazer, agora que Deus mostrou seu amor, é viver como ignorantes.

Mas e 1 Coríntios 8:1?

Opositores ao uso de filosofia também podem citar 1 Coríntios 8:1

Com respeito aos alimentos sacrificados aos ídolos, sabemos que todos temos conhecimento. O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica. - 1 Coríntios 8:1

Porem, algumas traduções trazem como “esse conhecimento”. Esse conhecimento que Paulo diz provavelmente é o ensinamento gnóstico. Como Anthony Thiselton apontou:

“Pode muito bem ser que o ‘conhecimento’ Corintiano tivesse uma matiz gnóstica, antirealista” [Anthony C. Thiselton, “The First Epistle to the Corinthians: A Commentary on the Greek Text”, 622.]

Conclusão

A experiência de Paulo em Atenas nos mostra que devemos, não nos adaptar ao “mundo” em que estamos, mas saber como falar com nossa audiência. Paulo era muito esperto e sabia exatamente como fazer isso. Devemos seguir seu exemplo e aprender a falar com nosso publico de forma que eles compreendam e se interessem pela Verdade Bíblica.

Agradecimento:


Christian Apologetics Alliance, “The Gospel in the Marketplace of Ideas

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