Um dos perigos do “cristianismo
moderno” é o de se cair no conto do cristianismo liberal. Eu defino “cristianismo
liberal” como aquela forma de cristianismo que se permite sair dos padrões
tradicionais das Escrituras para acomoda-la aos padrões gerais da sociedade
moderna. Uma das características dessa forma de “cristianismo” é quando a
pessoa vê doutrinas importantes que a afetariam diretamente e diz, “ah, mas
isso é questão de interpretação.” Além disso, é normal (nesse meio) a ideia de
que tudo que a maior parte do que a Bíblia ensina era apenas para a época em que foi escrito. Esse
tipo de teologia se tornou muito comum em meios de “cristãos pró-LGBT”,
cristãos de esquerda, etc. pelo simples fato de que essa interpretação das
Escrituras os permite abrir espaço para o tipo de “liberdade” que desejam.
Há, porém, um perigo óbvio
para quem é adepto disso. E é importante salientar esse perigo antes de ver as
falhas lógicas dessa visão religiosa. O perigo é o seguinte: Se você descarta o
que não gosta na Bíblia como algo “pra época” sem qualquer estudo da possibilidade
desse ser o caso ou não, então você esta se
colocando acima da Palavra de Deus. Como disse Santo Agostinho: “Se você
acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos
evangelhos que você crê, mas em você.”
Agora, quais são as falhas
lógicas desse tipo de perspectiva cristã? O primeiro problema está na afirmação
de que doutrinas importantes são uma “questão de interpretação.” Nesse caso, é
pressuposto que a Bíblia admita diversas interpretações e que, portanto, não
devemos “batalhar” para saber qual interpretação esta correta. Não apenas tal
posicionamento contradiz o que a própria Bíblia ensina (Judas 1:3), como também
é uma posição auto-refutável, ou autocontraditória. Pense nisso: Para dizer que
algo é relativo (como, “a interpretação desse texto é relativa”) você tem que
conhecer algum sentido objetivo
daquele texto. Em outras palavras, a afirmação de que a Bíblia admite diversas
interpretações é em si uma interpretação da Bíblia.
Para saber qual interpretação
da Bíblia está correta, devemos nos utilizar os meios apropriados de interpretação bíblica. Considere, por exemplo, a afirmação de Paulo de que o homem deve
ensinar e a mulher não, um ensinamento direto contra o pastorado feminino:
A mulher deve aprender em
silêncio, com toda a sujeição.
Não permito que a mulher
ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio.
Porque primeiro foi
formado Adão, e depois Eva.
1 Timóteo 2:11-13
Como nós podemos saber que
esse ensinamento não é para aquela época? Bom, em primeiro lugar, não há nenhum
indicio disso no texto. Não parece que Paulo esteja falando apenas para Timóteo, ou apenas para o grupo em que Timóteo estava envolvido, ou apenas para
a situação em que Timóteo estava envolvido. O que nos leva ao segundo ponto: Note
que Paulo usa como justificativa Adão e Eva. O que isso implica é que essa seja
uma ordem de criação, não de algo para a época.
Acredito que esses pontos
tornem extremamente difícil de se interpretar esse texto de outra forma. Porém,
se alguém mostrar minhas conclusões como erradas a partir de métodos de interpretação séria
do texto, eu posso reconsidera-las.
Como segundo exemplo,
considere as leis do Antigo Testamento. Como nós sabemos que elas eram para a
sua época, e não pra sempre? Porque elas faziam parte das palavras da Antiga
Aliança, as quais a Nova Aliança veio para “substituir”, por assim dizer. Como
diz o autor de Hebreus:
Chamando "nova"
esta aliança, ele tornou antiquada a primeira; e o que se torna antiquado e
envelhecido, está a ponto de desaparecer.
Ora, a primeira aliança
tinha regras para a adoração e também um tabernáculo terreno.
Foi levantado um
tabernáculo; na parte da frente, chamada Lugar Santo, estavam o candelabro, a
mesa e os pães da Presença.
Por trás do segundo véu
havia a parte chamada Santo dos Santos,
onde se encontravam o
altar de ouro para o incenso e a arca da aliança, totalmente revestida de ouro.
Nessa arca estavam o vaso de ouro contendo o maná, a vara de Arão que floresceu
e as tábuas da aliança.
Hebreus 8:13-9:1-4
Outros textos, como
Colossenses 2:14-17 e Hebreus 8:5 também destacam que leis cerimoniais eram sombras da
realidade de Cristo. [Edit: Para evitar confusões, há de ser dito que muitas leis do Antigo Testamento são direcionadas especificamente para Judeus, não pra Cristãos.]
Desse modo, torna-se
evidente como devemos tratar, nas Escrituras, questões que são “para a época”
ou não.
Ainda mais preocupante do
que tratar questões bíblicas como “questões da época” é o tratamento da
moralidade como subjetiva para a época. Por exemplo, dizer que Paulo condenou o
comportamento homossexual em Romanos 1 porque isso era invalido “para aquela
época”, ou dizer que Jesus era contra o divórcio porque era algo errado “para
aquela época”, etc. Esses tipos de ensinamentos não só são logicamente inválidos,
como também são completamente anticristo. Pense nisso por um segundo: Cristo
morreu por nossos pecados. O que são pecados? São atos objetivamente errados. Portanto, se não há uma moral
objetiva para todas as épocas, Cristo morreu em vão.
Se a moralidade fosse
subjetiva, você não precisaria se reconciliar com Deus. Apenas diria “isso é
errado pra você, mas não pra mim. Assim, eu não pequei.” Se não há certo e errado, então não há pecado. Se não há pecado, não tem porque Cristo morrer.
Agora, apontar para o
desenvolvimento moral da sociedade é um tipo de argumentação invalida. Em
primeiro lugar, só porque a percepção moral das pessoas mudou com a época, isso
não significa que a moral seja subjetiva. Isso seria uma confusão entre epistemologia e ontologia, quer dizer, uma confusão entre “como sabemos” com “o que
é.” Em segundo lugar, se a moralidade fosse subjetiva de acordo com a sua
época, nós nunca poderíamos dizer que a nossa época tem valores melhores. Isso
porque, se não há moral objetiva, então nós não melhoramos de acordo com um
padrão, mas, na verdade, apenas mudamos de regras. Desse modo, não temos como
dizer que a escravidão era algo errado, ou que torturar pequenos bebês por
diversão seja algo errado. São apenas opiniões.
Por fim, se a moral fosse
subjetiva de acordo com a sua época, todo e qualquer movimento “revolucionário”
de hoje em dia perderia seu fundamento principal. Um movimento como a
legalização do aborto pressupõe que haja uma resposta certa ou errada com
relação à mulher envolvida e ao bebê que esta para nascer. Do mesmo modo,
ninguém poderia proclamar direitos, já que o próprio conceito de “direitos
humanos” pressupõe um valor moral.
Também pode ser dito que
alguém pode querer responder a esse texto. Porém, tal atitude implicaria que a
pessoa crê em uma resposta certa e que eu estou errado. E se eu fosse responder
a essa resposta, também seria pressuposto pelo meu adversário que seria errado
eu representar sua posição de forma errada, ou utilizar de argumentos ad hominem, ou que eu não minta, ou que
eu seja honesto, etc. Desse modo, escapar de uma experiência de moral objetiva
torna-se extremamente difícil.
Em suma, não devemos cair
no conto de “é apenas a sua interpretação.” Devemos utilizar os métodos
apropriados de exegese bíblica para interpretar um texto, assim descobrindo o
que é para a época e o que não é. Além disso, é difícil um cristão ser um
relativista moral, já que isso acabaria com toda a necessidade da obra de
Cristo.
Muito bom!! Eu estava pensando esses dias sobre como eu poderia responder os liberais. Foi Deus que escreveu esse texto pra mim!
ResponderExcluirObrigada pela grande ajuda. Deus te abençoe!! 🙏