quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Immanuel Kant e a Teologia Natural


Um dos trabalhos escritos mais importantes da filosofia, é a Critica da Razão Pura, de Immanuel Kant. Apesar de Kant não descartar a existência de Deus como objeto de fé, ele critica os argumentos cosmológico, teleológico e ontológico, dizendo que Deus não pode ser objeto da razão, pois os argumentos possuem prós e contras que se contradizem. Por exemplo, enquanto podemos dar bons argumentos para o universo ter começado a existir (no argumento cosmológico), também existem boas razões para se crer que ele não começou a existir. Desse modo, usar a razão para chegar a Deus é contraditório, e Ele deve ser apenas objeto de fé.


Immanuel Kant e a Teologia Natural


Kant e o argumento cosmológico


Kant expõe um dos argumentos antigos contra um regresso infinito de tempo para mostrar a racionalidade da crença na origem do universo. Ele pensava que esse argumento estava correto. Porém, o uso da razão também nos levaria a uma contradição. Ele argumentou que, antes do universo começar, deveria haver uma espécie de tempo vazio. Ele disse:

Como o começo é uma existência precedida de um tempo em que a coisa não é, tem que ter decorrido previamente um tempo em que o mundo não era, ou seja, um tempo vazio. Ora, num tempo vazio não é possível o nascimento de qualquer coisa, porque nenhuma parte de um tal tempo tem em si, de preferência a outra, qualquer condição que distinga a existência e a faça prevalecer sobre a não existência (quer se admita que essa condição surja por si mesma ou através de uma outra causa). Podem, por conseguinte, começar no mundo várias séries de coisas, mas o próprio mundo não pode ter começo e é pois infinito em relação ao tempo passado. [1]

O raciocínio pode ser posto dessa forma: Já que havia uma espécie de tempo vazio antes do inicio do universo, e esse tempo possui momentos que não se distinguem um do outro pela ocorrência de eventos, então não há motivo para crer que o universo teve um inicio em um momento ao invés do outro. Desse modo, o universo não pode ter começado a existir. Já que todos os momentos de tempo nesse vazio são iguais, não há razão para o universo não começar em um momento ao invés do outro. Em todos esses momentos, as mesmas condições são existentes. Todos os momentos possuem as condições necessárias para a criação do universo. Desse modo, por que não antes ou depois do momento em que foi criado? Se tal tempo vazio possui, em todos os seus momentos, as mesmas condições, o universo não pode ter começado a existir, mas existido eternamente.
Um exemplo que pode ser dado é o congelamento da água: A água congela quando em uma região com menos de 0°. Mas, se a região esta nessa condição sempre, então sempre a água estará congelada. Seria impossível a água começar a congelar. Similarmente, se o tempo vazio sempre possui as condições para a criação do universo, então o universo sempre existiu.
O primeiro problema a ser apontado aqui, é a pressuposição do tempo absoluto Newtoniano, onde há esse “espaço de tempo vazio” antes da origem do universo, onde não há tempo nem matéria. Em uma visão de tempo relacional, o tempo começa em t=0. Em outras palavras, o tempo começa com o universo, não havendo tempo antes. E isso é precisamente o que a cosmologia moderna nos mostra. Dada a expansão do universo, Stephen Hawking formulou um seu teorema da singularidade, o qual o fez concluir, “quase todo mundo agora crê que o universo e o próprio tempo tiveram um inicio no Big Bang.” [2] Filosofo Quentin Smith também explicou que o conceito de singularidade “compreende a impossibilidade de estender a diversidade espaço-tempo para além da singularidade [...] Isso exclui a ideia de que a singularidade é um efeito de algum processo natural anterior” [3]
Cosmologo Alexander Vilenkin também é enfático ao dizer que antes do inicio do universo, “não há matéria e não há espaço [...] também, não há tempo” [4] Apesar do ramo da filosofia da ciência admitir que as teorias cientificas são mutáveis, esse não parece o caso da origem do universo. Como disse Vilenkin, o teorema que ele, Arvind Borde e Alan Guth desenvolveram mostram que modelos de universos eternos “simplesmente não podem ser construídos.” [5]
Pode ser, de certo modo, desonesto atacar um argumento antigo usando ciência moderna. Porém, já que muita gente ainda utiliza dos argumentos de Kant como “cheque-mates” na metafísica, então a ignorância dessas pessoas deve ser esclarecida.  
Um segundo problema com o argumento de Kant, é que ele na verdade nos da razões para crer na pessoalidade da Primeira Causa. Supondo que tal tempo vazio tenha existido, a pergunta é, por que o universo não começou em qualquer outro momento? A resposta esta no principio da determinação, que diz que, se existem duas possibilidades com a mesma probabilidade de serem realizadas, então sua realização se deve a uma escolha livre daquele que causou. Como diz o filósofo William Lane Craig:

...em uma visão Newtoniana do tempo, um ser pessoal poderia escolher desde a eternidade criar o universo em qualquer momento que ele quiser. Em uma visão relacional de tempo, ele poderia desejar atemporalmente criar e essa criação poderia marcar a origem do tempo. Então, a antítese de Kant, longe de refutar o inicio do universo, na verdade provê uma iluminação dramática da natureza da causa do universo; pois se o universo começou a existir, e se o universo é causado, então a causa do universo deve ser um ser pessoal, que livremente escolheu criar o universo. [6]

Então, a critica de Kant ao argumento cosmológico parece não concluir o que ele queria, mas sim fortalecer a conclusão do argumento.

Kant e o argumento teleológico


Apesar de ficar impressionado com o argumento do projeto, ou, como ele chamou, argumento físico-teológico, Immanuel Kant via dois problemas com ele. Em primeiro lugar, ele não prova a existência de Deus, como ser onisciente, onipresente, amoroso, etc. Na verdade, no máximo provaria a existência de um Arquiteto. Ele escreve:

Esta prova poderia, quando muito, demonstrar um arquiteto do mundo, sempre muito limitado pela aptidão da matéria com que trabalha, mas não um criador do mundo a cuja idéia tudo estaria submetido, o que não basta de modo algum para o grande fim que temos em vista e que é o de provar um Ser originário, plenamente suficiente. Se quiséssemos demonstrar a própria contingência da matéria, teríamos que recorrer a um argumento transcendental, o que, precisamente, se quis aqui evitar. [7]

Em primeiro lugar, devemos apontar a irrelevância do argumento de Kant. De fato, mesmo se o argumento provasse apenas a existência de um Arquiteto do universo, isso já seria o bastante para demonstrar a falsificação do naturalismo. Como Charles Taliafello colocou:

... o que Kant pensa ser muito modesto como consequência da teologia natural seria intolerável por muitos naturalistas. Imagine que naturalistas contemporâneos como Narveson, Bagger ou Rundle se tornando convencidos que muitos argumentos filosóficos “estabilizam um grande arquiteto do mundo”. Isso não iria se encaixar bem com suas afirmações centrais sobre a hegemonia explanatória do naturalismo [8]

Isso é similar à objeção de Richard Dawkins ao argumento cosmológico, o qual diz que ele não prova um Deus da Bíblia, mas sim apenas uma primeira causa transcendente. A resposta de Craig a Dawkins, também é igualmente válida ao argumento de Kant: “O argumento não pretende trazer tais coisas à luz. Seria uma forma bizarra de ateísmo — na verdade, indigna desse nome — admitir que o universo tenha um Criador pessoal, não causado, sem começo, imutável, imaterial, atemporal, não ilimitado pelo espaço e inconcebivelmente poderoso.” [9]
Tal objeção também não considera a conclusão do argumento cosmológico. Em um caso cumulativo, o argumento cosmológico e o teleológico são usados em conjunto para mostrar Deus como Criador do universo e Designer do universo. Não um “mero arquiteto” que usou a matéria existente. Mas sim um Criador que criou o universo e usou de Sua criação para realizar o projeto.
Em sua segunda objeção ao argumento teleológico, Kant apela ao regresso infinito, em forma de um dilema: Ou Deus é um membro da cadeia de causas naturais, ou Deus esta do lado de fora da cadeia. No segundo caso, Kant diz que não prova Deus, pois ele esta fora dos limites da razão humana. Isso, claro, é raciocínio circular, pois pressupõe exatamente o que ele esta tentando provar.
O primeiro caso, porém, levanta a questão do “inicio de Deus” e quem o causou. Se um regresso temporal infinito mostra que o universo teve um inicio, então também mostra Deus como tendo um inicio, sendo assim, contingente. Sendo contingente, levantaria a questão de quem o criou.
Me parece que Kant realmente não levou em consideração as consequências de um regresso infinito de tempo. Se o passado fosse eterno, isso implicaria que o numero de eventos passados seriam infinitos. Mas, se esse numero fosse infinito, então o hoje jamais chegaria. Pois não importam quantos momentos de tempo se passem, ainda faltariam infinitos para o hoje chegar. Supondo que o argumento tenha a fraqueza do tempo não ter relação com o espaço e a matéria, pelo menos o tempo não pode ser eterno. Desse modo, a causa criadora do tempo deve ser, necessariamente, atemporal, em um “espaço” onde não há passagem de tempo. Desse modo, a segunda objeção de Kant parece ser, no mínimo, tola.
Uma outra observação que deve ser lembrada, é que tal objeção também se mostra ultrapassada por causa das descobertas da ciência moderna citadas acima.

Kant e o argumento ontológico


Talvez a critica mais famosa de Kant seja ao argumento ontológico de Santo Anselmo. De acordo com Anselmo, Deus é o Maior Ser Concebível. Se algo pudesse ser maior do que Deus, então este seria Deus. Porém, se Deus existe apenas na mente, então Ele não pode ser o Maior Ser, pois existir na realidade é maior do que existir apenas na mente. Desse modo, Deus deve existir tanto na mente quanto na realidade, já que Ele é, por definição, o Maior Ser.
A critica de Kant vem do fato de existência não poder ser um predicado, ou uma perfeição. Por exemplo, se descrevermos duas maçãs exatamente iguais, mas no conceito de uma colocarmos que ela existe, isso não adiciona nada ao seu conceito. A existência não pode ser uma propriedade da maçã, enquanto a doçura ou a vermelhidão podem.
Kant escreve:

Assim, pois, quando penso uma coisa, quaisquer que sejam e por mais numerosos que sejam os predicados [propriedades] pelos quais a penso (mesmo na determinação completa), em virtude de ainda acrescentar que esta coisa é, não lhe acrescento o mínimo que seja. Porquanto, se assim não fosse, não existiria o mesmo, existiria, pelo contrário, mais do que o que pensei no conceito e não poderia dizer que é propriamente o objeto do meu conceito que existe. [10]

Stephen Davis respondeu à essa objeção de forma inconclusiva. Mas, pelo menos, ele demonstrou que Kant estava incorreto.
Davis nos faz pensar, por exemplo, em cem dólares. Coloquemos dois cem dólares conceituais. No segundo os cem dólares existem. Existe alguma diferença entre a existência e a não-existência dos cem dólares? Claramente que sim. Os cem dólares existentes possuem a propriedade de poder-ser-gasto, ao passo que os cem dólares inexistentes não. Ele diz, “dos cem dólares reais, meu conceito deles inclui a propriedade de ter-poder-de-compra-no-mundo-real. Meu conceito do conceito de cem dólares não tem essa propriedade.” [11]
Então, pelo menos em algumas circunstâncias, a existência pode adicionar propriedades ao conceito. No caso de Deus, a existência adicionaria a propriedade de aniquilar o mundo real. Um ser onipotente claramente pode fazer isso se existe. Ele também poderia interagir com o mundo real, coisa que o mero conceito sem existência não pode. Desse modo, a objeção de Kant parece não ter tanto poder quanto se imaginava.
Mas podemos ir além. Kant, na verdade, parece ter tido um enorme esforço e uma enorme fama por uma objeção irrelevante. Isso foi explicado pelo filósofo Alvin Plantinga. Ele diz:

A idéia de Kant é, então, que não podemos fazer algo existir por definição porque existência não é uma propriedade ou predicado real no sentido explicado.
Se isso é o que Kant quer dizer, ele certamente tem razão. Contudo, será isso relevante para o argumento ontológico? Não poderia Anselmo agradecer a Kant por esse interessante esclarecimento e continuar alegremente do mesmo modo? Em que momento Anselmo tentou fazer Deus existir por definição acrescentando a existência a uma lista de propriedades que definem um conceito? [...] Se este fosse o modo de proceder de Anselmo – Se ele tivesse se limitado a acrescentar a existência a um conceito que tem aplicação contingente – então na verdade o seu argumento estaria sujeito à critica kantiana. Mas ele não fez isso nem tampouco esta sujeito à tal critica. [12]

Desse modo, Kant na verdade atacou uma forma de espantalho ao atacar o argumento ontológico. Pois, na verdade, Anselmo nem se importaria com a critica. O que Anselmo quis argumentar, de fato, era que a proposição “Deus existe” é necessariamente verdadeira. Como Plantinga diz:

Anselmo pode certamente concordar, enquanto seu argumento estiver sendo discutido, que a existência não é um predicado no sentido explicado. Anselmo mantém que o conceito o ser que nada maior pode ser concebido é necessariamente exemplificado; este caso não é de forma alguma inconsistente com a sugestão de que todo o conceito de uma coisa diminui em relação à existência é equivalente ao conceito inteiro não diminuído dessa coisa. Anselmo argumenta que a proposição Deus existe é necessariamente verdadeira; mas nem essa afirmação nem seu argumento para ela implicam ou pressupõem que a existência é um predicado nesse sentido. [13]

Apesar disso, atualmente outras versões do argumento ontológico são utilizada por apologistas cristãos. A mais famosa formulada pelo próprio Plantinga, argumenta que, como Deus é o Maior Ser Convebivel, então Ele não pode ser meramente contingente. Desse modo, como Ele não é contingente e Sua existência não é impossível, Ele deve ser necessário, existindo em todos os mundos possíveis. Como o mundo real é um mundo possível, então Ele deve existir. Plantinga argumenta no seguinte silogismo:

  1. É possível que Deus exista.
  2. Se for possível que Deus exista, então Ele deve existir em algum mundo possível
  3. Se Deus existe em algum mundo possível, então Ele deve existir em todos os mundos possíveis.
  4. Se Deus existe em todos os mundos possíveis, então Ele deve existir no mundo real.
  5. Portanto, Deus existe no mundo real.
  6. Portanto, Deus existe.

O argumento moral kantiano


Existe uma versão do argumento moral que o Kant defendeu, que hoje é conhecida como Argumento Moral Kantiano. Em sua teoria ética deontológica, Immanuel Kant argumentou para sensos que todo ser humano tem, o que ele chamou de Imperativo Categórico. Eles são três: a) Fazer o que for universalizável, b) a humanidade é um fim, não um meio, e c) obrigações devem ser realizadas pelo próprio dever (principio da autonomia).
O simples ato pelo ato não era o bastante. Nós falhamos em cumprir esses atos morais. E Kant reconhecia o problema da culpa nisso. A culpa é o sinal que falhamos nisso. O que levantou outra questão: Há justiça perfeita nesse mundo? Para Kant, como a moral segue um propósito, esse proposito deve se encontrar em estabelecer a justiça perfeita. Como essa justiça não se encontra aqui (nós falhamos em cumprir o código moral), então ela deve se encontrar na vida além dessa. O que isso implica é na conclusão de que a vida além dessa deve manifestar a justiça perfeita, por meio de um Juiz Perfeito. Como esse Juiz deve saber todos os erros cometidos, ele deve ser onisciente. Como Ele poderia ser um Juiz Moralmente Perfeito se estivesse apto a errar em seu julgamento? Ele deve saber quais as circunstâncias que levaram as pessoas à Sua corte. Esse Juiz também deve ser onipotente, para ser capaz de impor sua sentença para garantir justiça perfeita. R. C. Sproul resume:


...a fim de que os padrões éticos tenham algum significado (dessa forma nos impondo obrigações), a justiça precisa existir; e, sabendo que nossa justiça é imperfeita na terra, deve existir justiça perfeita na vida futura, e que ela seja garantida por um juiz onisciente, onipotente, perfeitamente moral. [14]

Empirismo e Racionalismo sintetizados


Kant propôs uma síntese do racionalismo e do empirismo. De acordo com o racionalismo, nosso conhecimento é adquirido pela razão, ao passo que, de acordo com o empirismo, nós o adquirimos pela experiência. A síntese de Kant pode ser colocado de forma simples dessa forma: A principio, nós temos nossa experiência sensível e, depois, nós utilizamos a razão imediata para adquirir a informação. Como essa razão é autônoma, o que nós adquirimos é uma informação do fenômeno, mas não do objeto em si. O mundo real, Kant chamou de mundo noumenal, enquanto o que nós experimentamos a partir de nossa razão é o mundo fenomenal. Como nossa experiência é necessária antes de racionalizarmos o fenômeno, coisas como Deus, a imortalidade da alma e outras realidades metafísicas não podem ser atingidas pela razão.
Claramente, se esse fosse todo o argumento de Kant, teríamos que admitir que sua posição é auto-refutável. Pois a idéia de que nós devemos ter a experiência empírica antes do racional em si não passa pela experiência empírica. Foi por isso que ele utilizou da razão prática para “colocar” a metafísica onde ela pertence.
Mas ainda há outro sentido em que tal afirmação de Kant pode ser dita como auto-refutável. A afirmação “não podemos conhecer o mundo real” é em si uma afirmação sobre o mundo real a qual Kant conhece. De fato, tal visão comete a falácia do nada mais. Como disse Norman Geisler, é como se colocássemos um papel branco em uma mesa preta. A única forma de dizer o que há depois do papel é conhecendo o que esta depois dos limites dele. Da mesma forma, se dissermos que não podemos saber nada mais do que o que percebemos, dizemos que sabemos mais do que os limites da percepção [15]. Geisler diz:

Dizer que alguém não pode saber mais que os limites do fenômeno ou da aparência é como tentar fazer uma linha na areia com as duas pernas. Estabelecer limites tão firmes equivale a ultrapassá-los. Não é possível afirmar que a aparência termina aqui e a realidade começa ali a não ser que se possa ver até certa distância do outro lado. Como alguém pode saber a diferença entre aparência e realidade se não viu o suficiente da aparência e da realidade para fazer a comparação? [16]

Seriam os argumentos cosmológico e teleológico dependentes do ontológico?


Kant acreditava que os argumentos cosmológico e teleológico são dependentes do ontológico, pois, de acordo ele, assim como o ontológico, os argumentos vão da possibilidade da existência de Deus para a existência necessária. Porém, nenhum dos argumentos pressupõem essa possibilidade de existência necessária. De fato, é estranho dizer que eles dependem do ontológico, já que eles existiram séculos antes dele. Ambos os argumentos vão de efeito para causa:

Cosmológico: Natureza tem um inicio -> causa sobrenatural
Teleológico: O universo foi projetado -> houve um projetista
Ontológico: Deus existe é uma verdade necessária

Notou a diferença?

Uma critica à tudo?


Se fossemos obrigados a considerar a objeção de Kant à teologia natural, teríamos que aplicá-la a tudo. Pense nisso: Se não podemos conhecer a Deus porque existem argumentos pró e contra, então até mesmo discussões políticas, éticas e de qualquer coisa teriam que ser descartadas. Se a origem do universo não pode ser postulada porque existem bons argumentos para a origem, mas bons contra a origem, então o mesmo vale para outras coisas também. O conservadorismo não pode ser postulado como melhor, pois existem bons argumentos a favor e contra. Ética deontológica ou utilitarista não pode ser vista como uma visão ética melhor do que a outra, pois ambas possuem bons argumentos a favor e contra. No fim, Kant apenas atestou o óbvio: Há bons argumentos pro sim e bons argumentos pro não. Mas é o peso dos argumentos e sua verdade que implicam sua validade.
Pode ser respondido que, como a existência de Deus é algo que envolve a puramente a razão voltada à realidades metafisicas, então não podemos aplicar o mesmo principio à coisas práticas. Porém, coisas como o aborto e a politica envolvem algo ainda mais difícil de ser argumentado do que realidades metafísicas. Seria impossível - pra não dizer, tolo - um ser humano tentar argumentar para a certeza de um futuro contingente. Não sabemos se o bebê assassinado será um problema pra mãe (o que, de qualquer forma, não justificaria) ou se ele será um cientista que vai curar o câncer. Talvez seja respondido que nós podemos nos basear no agora para calcular a probabilidade de eventos futuros, mas isso apenas prova meu ponto: Podemos calcular a probabilidade de um argumento que se baseia em informações empíricas ou racionais e vemos quais argumentos, pró ou contra a existência de Deus, são mais poderosos. 

Conclusão


A objeção de Kant ao argumento cosmológico na verdade nos ajuda a entender a natureza da primeira causa, de modo que o argumento fica até mais forte. Quanto ao argumento teleológico, tudo o que Kant fez foi apontar a conclusão do argumento, o que é irrelevante. O argumento nunca foi intencionado a provar o Deus da Bíblia, mas sim um Deus compatível com o Deus da Bíblia. A critica mais famosa de Kant, que foi ao argumento ontológico, se mostrou como um espantalho e, mesmo se tivesse acertado, não seria conclusivo. Por fim, a síntese do empirismo com o racionalismo de Kant se mostrou auto-refutável, pois se não podemos conhecer o mundo real, como pode ele fazer tal afirmação sobre o mundo real? Como pode ele impor os limites sem saber o que esta além dos limites? Como ele sabe o que é, dizendo que não podemos saber o que é?

Fontes


[1] – KANT, Immanuel, Critica da razão pura, 5ª Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, A 427 B 455, p. 418
[2] – HAWKING, Stephen, PENROSE, Roger, The nature of space and time. Princeton University Press, 1996, p. 20
[3] – “The uncaused beginning of the Universe”, em CRAIG, William Lane, SMITH, Quentin, Theism, atheism and big bang cosmology, Oxford: Clarendon, 1993, p. 120
[4] – Citado por J. Warner Wallace, em Can Multiverse Theories Explain the Appearance of Fine Tuning in the Universe?, http://coldcasechristianity.com/2015/can-multiverse-theories-explain-the-appearance-of-fine-tuning-in-the-universe/
[5] – Inference Review, The Beginning of the universe, http://inference-review.com/article/the-beginning-of-the-universe
[6] – CRAIG, William Lane, The kalãm cosmological argument, 1ª Ed., The Macmillan Press, 1979, p. 151
[7] – Kant, ibid, A 627 B 655, p. 534
[8] – TALIAFERRO, Charles, “The Project of Natural Theology”, em The blackwell companion to natural theology, ed. CRAIG, William Lane, MORELAND, J. P., Wiley-Blackwell, 2009, p. 18.
[9] – Reasonable Faith, O neoateísmo e cinco argumentos a favor de Deushttp://www.reasonablefaith.org/portuguese/o-neoateismo-e-cinco-argumentos-a-favor-de-deus#ixzz4SGtvPw00
[10] – Kant, ibid, A 600 B 628, p. 517
[11] – Stephen T. Davis, God, reason and theistic proofs, Edinburgh University Press, 1997, p. 35
[12] – PLANTINGA, Alvin, Deus, a liberdade e o mal, Vida Nova, 2012, pp. 123-124. Um pequeno erro de tradução foi corrigido para a melhor compreensão.
[13] – _____, God and other minds: A study of the rational justification of belief in God, Cornell University Press, 1975, p. 36
[14] – SPROUL, R. C., Defendendo sua fé: uma introdução à apologética, CPAD, 2007, p. 134
[15] – GEISLER, Norman, TUREK, Frank, Não tenho fé suficiente para ser ateu, Vida.
[16] – _____, Enciclopédia de apologética: Repostas aos críticos da fé cristã, Vida, 2002, p. 18

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